Uma análise sobre a representação da Mulher na Sociedade atual

A mulher tem recebido visibilidade crescente no mercado de trabalho, na educação, na economia e principalmente sobre si própria. No entanto, ao dizer que a mulher conquistou (e ainda conquista) espaço dentro da sociedade, é necessário entender o papel feminino na história. “É senso comum dizer que a mulher adquiriu autonomia, mas é importante saber como se deu o processo que resultou no avanço da mulher hoje” comenta a historiadora Alana Milcheski.

Os relatos sobre a humanidade sempre foram vistos por uma perspectiva masculina, e de certa forma, na maioria das sociedades, a mulher foi confinada ao lar, submissa à imagem masculina.

“Mesmo quando se trata da data do Dia Internacional da Mulher, poucos conhecem a origem deste marco”, prossegue a historiadora. O Dia Internacional da Mulher foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1975 como forma de homenagear a manifestação de funcionárias de uma fábrica de tecido que se mobilizaram para buscar melhores condições de trabalho.

A greve, que ocorreu em 1857, se deu por um grupo de tecelãs que trabalhavam cerca de 16 horas diárias e recebiam até um terço do salário de homens que exerciam suas mesmas funções. Como resultado do movimento, 129 mulheres foram trancadas e incendiadas dentro da fábrica.

Somente mais de cem anos depois do acontecimento, a atrocidade foi reconhecida, por conta do reposicionamento da mulher perante a sociedade. Embora muitas mudanças tivessem origem no final do século XIX, foi a partir de 1960, com a concretização dos movimentos feministas nos Estados Unidos, que logo se espalharam para outros países que a mudança deu maiores passos. Passeatas, greves, busca por maiores recursos no que diz respeito a empregos, estudos e direitos sociais levaram-nas às ruas.

Feminismo no Brasil

No Brasil, a primeira mudança efetiva deu-se com o voto político, que passou a ser permitido para mulheres na constituição elaborada em 1933. No ano seguinte já havia a primeira deputada do Brasil, Carlota Pereira de Queirós. Além da política, a luta partia para os aspectos sociais, econômicos e pessoais do sexo feminino. Inspiradas por movimentos europeus, mulheres utilizavam mídias alternativas como forma de comunicação e manifestação de seus interesses.

No que dizia respeito ao trabalho, a busca pelo direito de empregos que permitiam salários igualitários foi árdua, mas gerou grandes conquistas, como a legislação trabalhista, que garantia a proteção da mulher no trabalho.

“Enquanto no resto do mundo o grande momento foi a década de 60, o Brasil passava por uma rígida ditadura militar, assim, os movimentos feministas focaram-se na introdução do direito de divórcio na legislação”, comenta Milcheski. Já na década de 70, em 75 a ONU declarou o ano internacional da Mulher, fato que dois anos depois originaria o Dia Internacional da Mulher”. A formalização de uma data tida como marco da luta pela igualdade de gênero deu aos grupos feministas brasileiros um novo fôlego para prosseguir com seus interesses.

A partir de 80, destaca-se a presença de personagens que podem ser colocadas em um formato feminista moderno, resultante das décadas de luta anteriores. Marta Suplicy passou a apresentar o programa TV Mulher, que, após a ditadura, permitia a liberdade para conversar por mídias de massa sobre sexualidade. O cenário cultural tornou-se não apenas mais visto como mais crítico e corajoso por parte das mulheres, como bem exemplifica Rita Lee.

Cenário Acadêmico

“O cenário dentro das universidades passou a se modificar, o crescimento do número de mulheres em busca de um curso superior se evidenciou há mais de trinta anos atrás”, explica a neurocirurgiã Nivia Kouyoumdjian, formada em medicina em 1988. A questão do gênero passou então a ser um objeto de estudo dentro do cenário acadêmico. Não propriamente o início, mas sim outra conquista da mulher, que passou procurar uma especialização, resultando em maior independência.

“De fato não era fácil por conta da contrariedade da maioria dos pais, que ainda esperavam, e de certa forma esperam no íntimo, que a filha apenas se case e tenha uma vida privada, mas ter todo um grupo mobilizado pelas mesmas razões que a gente nos dá uma motivação enorme”, explica a doutora.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam, a relação entre ensino, independência e mercado de trabalho por parte das mulheres estão intimamente ligados. Em 2009, 35,6% das mulheres brasileiras possuíam empregos com carteira de trabalho assinada, enquanto o número de trabalhadoras por conta própria ou sem carteira correspondia a 30% da população.

Deste percentual de trabalhadoras, 61,2% estudaram pelo menos 11 anos, equivalente ao ensino médio completo. Tal média já era superior à dos homens, 53,1%. O número de mulheres que apenas trabalham aumentou em 10 anos para 40%, evidenciando a presença da mulher no mercado de trabalho e diminuindo o tempo dedicado a afazeres domésticos – 17,3% do total de trabalhadoras – que estão tomando a posição de sustentar a família.

Ainda no aspecto familiar, o número de mulheres que possuem filhos, mas não cônjuges, subiu de 15,5% para 18,1%, e, de maneira contraditória ao esperado, o percentual de casais em que a mulher toma a dianteira na família é de 20,7%. Os números comprovam que, em passos mais rápidos que nas décadas anteriores, as pesquisas de 2009, quando comparadas com as de 2000, mulheres estão mais independentes.

“Ter o controle sobre si mesma tem acontecido cada vez mais cedo entre as mulheres, e tal oportunidade nos permite a dedicação ao que quisermos da forma que entendemos melhor”, explica a gerente administrativa Carla Rodrigues. “Tanto no âmbito profissional, visto que podemos buscar empregos antes limitados aos homens, quanto no sexual”. Rodrigues vive com sua parceira em união estável, que foi permitida de maneira oficial no Brasil apenas no ano passado.

Cenário Profissional

Além de aumentar o número de mulheres trabalhadoras, elas não se limitam mais a trabalhos exclusivamente masculinos. Frentistas, taxistas, juízas, políticas, entre outras, estão ocupando cargos, não apenas físicos, mas também no aspecto de maior representatividade e poder perante a sociedade. “Ser uma taxista é comum, ao meu ver. Nunca tive nenhum problema com passageiros nos 3 anos de trabalho, nem sofro qualquer tipo de assédio ou embaraço por parte de meus colegas de trabalho”, afirma a taxista Juliana Chemello.

O distanciamento da obrigatoriedade dos afazeres domésticos concentrados sobre a mulher também resultaram em uma nova divisão de tarefas com o cônjuge ou outros membros da família. Tais mudanças, que incluíram maridos realizando parte dos afazeres deu à mulher uma arma para se sentir mais livre perante a opção de trabalhar. “Meu marido me ajuda na limpeza, busca nosso filho, e até cozinha, desde que comecei a trabalhar. Nossa estrutura familiar mudou, sinto que ficou mais equilibrada”, prossegue Chemello.

Ainda no que diz respeito ao âmbito doméstico, o número de mulheres que vivem sozinhas e trabalham é atualmente de 24,2%. Destas, 46,7% trabalham e também estudam um curso superior. Tal número subiu cerca de três pontos, comparados com a pesquisa de 2000. A autonomia da mulher também é vista na possibilidade de uma maior aceitação por parte da sociedade quanto a existência de tal independência, que anos antes era vista como vulgar.

No entanto, a desigualdade da renda ainda existe, mesmo após 50 anos de luta. O IBGE indica que, nos dados realizados em 2009, o salário das mulheres em todas as áreas eram inferiores ao dos homens, muitas vezes trabalhando em mesmas funções. A média de diferença salarial entre empregadores do sexo masculino e feminino chega a R$664, enquanto de empregados é de R$298.

“Os comentários são inevitáveis quando percebem uma frentista. Já fui chamada de ‘Maria Gasolina’, entre outras coisas várias vezes, mas me orgulho de trabalhar, e colaborar para a renda em casa”, comenta a frentista, que atua na profissão há 3 anos, Jaqueline Freitas. “Tive que encontrar algo assim que meu marido perdeu o emprego por motivos de saúde, alguns meses depois, quando ele conseguiu um novo trabalho, resolvi que poderia continuar com o emprego para melhorarmos nossa qualidade de vida”, conclui a frentista.

Tanto no mercado de trabalho quanto na política, a mulher tem alcançado maior espaço, apenas não equilibrado ao do homem. Com a eleição da primeira presidente mulher no Brasil, a população, apesar de muitas críticas, passou a mudar o olhar sobre a posição da mulher na política. Enquanto temas sérios se mantiveram por anos entre homens, este é outro âmbito no qual as mulheres possuem cada vez uma maior voz.

“Tanto quanto os homens, não necessariamente mais ou menos que os homens, as mulheres precisam caminhar juntas. Os mesmos interesses pela cidadania e pela comunidade devem levar a um trabalho conjunto e igualitário. Não creio que atrás de um homem há uma grande mulher, mas sim ao lado”, afirma a vereadora Alina de Almeida Cesar, que já está em seu terceiro mandato na cidade de Ponta Grossa. “Deveríamos ter mais representantes, não apenas aqui, mas no nível estadual.

São poucas as mulheres que participam, mas, essas que o fazem dão o seu quinhão de responsabilidade e compromisso com o povo”, finaliza Almeida. De acordo com o IBGE, embora menos de 10% dos cargos políticos sejam ocupados por mulheres, aproximadamente 48% da mão de obra economicamente ativa está representada por elas.

Violência e Direitos

E com todos os avanços da mulher no âmbito social, permanecem as estatísticas de violência doméstica em todo o país. A lei popularmente conhecida como Maria da Penha, criada em 2006, a fim de proteger mulheres das diferentes formas de violência (física, psicológica, moral, patrimonial e sexual) permitiram maiores dados sobre ações cometidas contra mulheres, muitas vezes por cônjuges ou outros companheiros próximos.

Apenas no começo do ano de 2012 houve uma modificação específica na lei que permite a denúncia por parte de outra pessoa que seja testemunha, mas não vítima de qualquer tipo de violência contra a mulher. A mudança ocorreu a fim de tornar os números de denúncias mais reais, visto que, conforme dados expostos pela Delegacia da Mulher de Ponta Grossa apontam, com referência de cunho nacional, poucas das muitas mulheres que sofrem os variados tipos de agressão fazem alguma denúncia. Muitas, mesmo quando o fazem, e afirmam ter sofrido qualquer tipo de opressão, interrompem o processo do boletim de ocorrência, por medo do cônjuge ou por submissão e medo das possíveis consequências do resultado do processo.

O papel que a mulher exerce hoje na sociedade é resultado de passos dados sobre manifestações que tiveram muitas barreiras. O voto, a profissão, a educação superior, a autonomia dentro da família e própria são áreas na qual todas as mulheres, embora muitas vezes reprimidas por falta de informação ou mesmo medo, estão hoje ao seu alcance. Os resultados de tais conquistas se tornam, além de direitos, deveres das mulheres que buscam pela igualdade dentro da sociedade.